quinta-feira, 31 de março de 2011

Poetas...





Em cinco minutos...
Vi o mundo.
Minha visão panorâmica filmou
Os gestos, os afetos e os incrédulos.

Era cabeça baixa
Olhando para o nada,
Eram risos vazios
Sem entender por que sorria.

Vozes que falavam de tudo,
Menos de poesia.
Essas vozes ecoavam em minha cabeça
Feito filme de terror.

Olhos, boca, nariz, membros... E tal.
Esperando o banal...
Menos poesia, para eles: "abissal".
Coxixavam: como assim, poesia?

Diziam:
"Gente doida,
Mulheres malucas,
Coisa mais brega,
Periferia de merda"!

Não é por aí não, meu semelhante...
Somos poetas!
Você não sabe, mas a poesia liberta!
Desfaz o preconceito fazendo-nos enxergar o mundo...
Para uns, "mundinho"; para nós, poetas, mundo indizível.

Mas no meio de tanta gente
Teve uma pessoa poesia
Que ao invés de torcer o nariz
Vibrou e nos deu um SALVE de alegria.
Parece nada, mais ganhamos o dia.



((( Camila Senna )))



segunda-feira, 7 de março de 2011

Átomo...



Fui adiar a claridade
Levar as sombras pra passear
Encontrei outra pessoa
Na mesma rua a reclamar.

Andei cansada...
De tudo um pouco
De tudo, de nada ...
Depressão?
- Acho que não.

Talvez falta de firmeza...
Não basta a fineza!
Pode ser também falta de jeito,
Afinal nem tudo que você diz: “é o que é”.
(Perdoe mas... você não é bom em respeito).

Ainda tem o lance do átomo
Que colide com outra parte de si...
E forma em nós um tesouro
Ou um besouro?

Você não sabe
Passa por cima
Queima sem ler
Queima sem saber.

Acredita no que vê.
Nem imagina o meu ser...
Nem imagina que com você
Não posso mais viver."



(((Gabriela Boechat)))




Sacerdotisa...

SENNA

A humilhação é insistente e desde sempre me atormenta.
Mas sou dura na queda!...
Não permito-me ser submissa...
Não me faço de vítima, sou indomável!

A vida me apresentou pessoas vaidosas
Pessoas orgulhosas, cheias de si.
Tentando fazer a todo instante, com que eu me achasse sem valia...
Pessoas teóricas e frias. - eu sou mulher de prática, de emoção, de fantasia!

Não aceito humilhação. Embora algumas vezes,
A mesma me confronte, me encare, me desafie!
Mas não sou fraca, sou idealista.
Sou Minha Alquimista.

Em dias insípidos, busco o agridoce.
Em dias cortantes, faço-me flexível.
Em dias frios, visto-me de sol.
Em dias sem paixão, não adianta, perco o ímpeto!

Entro em crise na esfera coração!
Busco sinceridade e dou de cara com a soberba.
Sou feliz um dia. E os outros não!
Tenho tudo! Mas não tenho nada!

Será que a vida para mim já basta!
Que mistério é esse?
Indago...
Quero colher o fruto, mas ele nunca está maduro.

Está tudo errado!
O meu passado...
O meu presente.
O futuro não se mostra, quero apenas uma simplória resposta.

Sei que tenho a marca,
Sei que tenho o dom,
Sei que sou sacerdotisa,
Mas estão brincando de pique esconde comigo!

Sou de carne e osso, à espera do alvoroço.
Sou de sangue e vida, à espera da quimera.
Sagrada e desejada é a paz para mim!...
Tenho-a tatuado em meu corpo, ela sim! Deixo-me possuir!



((( Camila Senna )))


A inimiga...


Aprendi
Da maneira mais gentil
Que minha inimiga mora aqui,
Em meu ouvido esquerdo.
É ela que fala do medo
É ela que ri descontrolada
Quando a mão que afaga bate,
Quando a mão que bate afaga.
No costume da madrugada
Na hora do seu sono
Na hora do meu dono.
É ela que sai do nada vestida de guerra
Prega assim a lança em meu ombro
Me causa espanto.
Tinha esquecido dessa gana de ir!
Mas pior é quando em remanso ela chora encolhida
Porque, sem nada explicar, meu amado me manda ir...


((Gabriela Boechat)) 

quinta-feira, 3 de março de 2011

Um Poema da Rotina, um Poema...



 

Quis por um momento à sós, empunhar uma caneta, e naquela melodia adocicada, me via numa circunstância inusitada excretando umas palavras de emoções e conflitos para uma platéia que me aplaudia.
Aquela situação, desprovida de planos, mapas e sem o calor das veias me angustiou.
Os conflitos, ora se existiam... Refletiam uma ausência de um tudo de sombras, de estados bem intensos, de idas e vindas, carregados de guirlandas, peti pois e peti fours... De gente, ventos, mares, redemoinhos que me arranhavam as vistas.
E eu lá, no mundo das pessoas sentindo tudo aquilo sem vontade de falar!
É que as pessoas, todas elas possuem sangue, pele e músculos à serviço da rotina.
Elas vestem seus corpos com voil, couro e esmalte. Se comunicam através dos códigos, e deslizam para suas alcovas hibernantes. Não são mais pontas de icerbegs... Mergulham perdidamente entre eles...!
Juntas estão sós, e sós, anseiam estarem juntas.
O desabafo com palavras, foi apenas uma codificação do estado solitário do mundo externo, e um desamparo do imenso mundo de dentro, infinito.
Foi uma forma de evacuar sentidos iguais ao de todo o mundo das pessoas; na esperança de encontrar eco, ou... Quiçá sim-ples-men-te esvaziar-se desse nada que tanto incomoda... Buscando a justificativa ideal de não mais ser necessário escrever emoções, nem tragédias, nem comédia... (risos, muitos risos) E depois... Quem sabe? Realizar um absoluto...?

"Aurbana" 

30.11.2010 


((( Claudina Nunes )))



quarta-feira, 2 de março de 2011

A Arte e a Cultura da Baixada Fluminense

Fazenda São Bernardino, em Nova Iguaçu.

 

A Baixada Fluminense, periferia da região metropolitana do Rio de
Janeiro, vem, aos poucos, reescrevendo a própria história. A
denominação “baixada” é recente, pois, até o século passado, a região
era chamada “recôncavo da Guanabara”. Sempre foi uma região muito
próspera, primeiro com os engenhos de açúcar, depois com a produção de
café e, até o século passado, com a laranja. Frequentemente escrita,
fotografada e interpretada por gente que se encanta diante de tanta
riqueza cultural, a Baixada desponta como região promissora no Estado,
como consequência do crescimento do espaço urbano, econômico e até da
importância política.

Sua cultura tem a forte influência dos negros e nordestinos que

engrossam a estimativa de aproximadamente quatro milhões de
habitantes, segundo os dados do IBGE, e, mesmo assim, é tão pouco
equipada com aparelhos culturais e de educação. Segundo os dados do
Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos em Espetáculos de
Diversões do Estado do Rio de Janeiro (SATED/RJ), é da Baixada
Fluminense o maior número de profissionais com registro profissional
no interior do Estado do Rio de Janeiro, abrigando, portanto,
significativa mão-de-obra para a capital.

Vêm ocorrendo excelentes iniciativas por parte do terceiro setor,
inclusive do setor privado, ora numa tentativa de minimizar as
desigualdades nas oportunidades de acesso à produção cultural, ora
para atender ao crescente interesse da população em apreciar as mais
diversas manifestações artísticas.  Dentre estas iniciativas, há os
grupos de dança (do maculelê ao clássico), as mostras de teatro (dos
amadores aos profissionais), as coletâneas literárias e mostras de
música (dos grupos de pagode aos de especialidade erudita), revelando
o inquestionável talento desses cidadãos.

Os artistas da Baixada Fluminense, em suas diferentes segmentações,
têm buscado incessantemente conquistar um espaço de convivência sem
preocupação partidária ou qualquer bandeira; eles compartilham a
condição de viverem numa região periférica e a determinação de que
algo extraordinário aconteça. E assim também continuam as ONGs com
seus cursos de música, de circo, de dança, de teatro, motivando,
empreendendo, oportunizando novos cidadãos, afirmando a beleza de seus
cantos, seus gestos, sua arte.

A emoção faz parte desse povo que, ao ter a chance de se expressar,
deixa transparecer a explosão da alegria e a certeza de seu valor
cultural. A autoestima vem aumentando. A Baixada tem o seu dia, 30 de
abril, marco da sua expansão pela inauguração da primeira estrada de
ferro construída no Brasil.

Às organizações que defendem e procuram integrar a sociedade
“baixadense” creditamos o sucesso desse reconhecimento mútuo. Muitos
encontros e muitas articulações são essenciais, como a idealização do
Consórcio Intermunicipal de Cultura, iniciada no ano 2000 na Faculdade
de Educação da Baixada Fluminense (FEBEF), e, agora, a concretização
de um sonho, que é a reestruturação do Centro de Artes e Cultura da
UFRRJ, no campus Seropédica.

A Baixada Fluminense é um diamante que vem sendo lapidado por uma
pluralidade sem fim de talentos ainda escondidos. Com toda essa força
e empreendimento, pretendemos revelar ao mundo todo esse potencial;
temos a chance de fortalecer tanto culturalmente como economicamente o
Estado do Rio de Janeiro, vitrine de um país livre, rico, com intensa
diversidade natural e cultural.

Assim experimento e sinto-me envolta numa vibração de esperanças que

se renova a cada dia em milhares de cidadãos que produzem suas
riquezas com fé, com garra, com arte, que geram o progresso que
multiplica em cada rua, em cada bairro, em cada cidade, o real sentido
da vida.
- Texto publicado no Informativo Cultural da UFRRJ (CAC), edição Outubro/2009.


* Claudina Oliveira é Atriz; Diretora de Produção; diretora do Fórum
de Cultura da Baixada Fluminense; idealizadora e realizadora do
EncontrArte – Encontro de Artes Cênicas da Baixada Fluminense - e
realizadora do projeto Miss Baixada desde a primeira edição.



((( Por Claudina Oliveira )))