quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Favela



Eu vi,
vi comigo ninguém pode
a espada de Ogum
a patroa na janela
os becos e vielas

alguns escuros
outros acesos de baseadas sentenças

Vi fios emaranhados
com bandeirinhas do Brasil
a beata e seus pés de Aleluia!
A criança russa
de mãos negras

recebi carinho
de mais um cachorro
dessas minhas ruas,
dei boa noite à todo mundo!


Camila Senna

ROMÃ



Invadindo meus quartos,
me vi na lembrança esquecida
com dentes e purpurinas,
me vi no medonho céu
de raízes sem espaço

foram linhas cruzadas
nas remosas culpas
da vida

pensei: meu Deus!
se eu tivesse crido
naquilo, e naquilo!?

Mas sempre acreditei em sonhos,
durmo acordada
no romã barulho das caladas
da noite.

Camila Senna.


BOM DIA..



Teu gozo
estupra o meu

não restando
nem gotinhas de delírios

Que pedra de escândalo
esse momento meu

esse bem vindo
que se antecipa antes do meu ronronar,

me desata a magia
me traga em lucidez
e ironia.

Camila Senna



segunda-feira, 15 de julho de 2013

Não Menos...


Frida Sofrida
Mas não Menos Cálida


Kahlo dentro do gargalo
A Dor que Arde mas Finda!


Camila Senna.
 
 

terça-feira, 28 de maio de 2013

Direitos iguais! Já!


Tempero de poesia...


Com a barriga colada sendo uma só na beira da pia da cozinha, fazendo Jabá com Jerimum, veio-me um poema, olhei para um lado, olhei para o outro, passei o olho rápido para ver se achava uma caneta, (nada) me vi com cebola numa mão, noutra uma faca. E lá se foi um poema perdido dentro de um dos meus pratos preferidos.
Camila Senna.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Rita Lee - Todas as mulheres do mundo ...



Elas querem é poder!
Mães assassinas, filhas de Maria
Polícias femininas, nazijudias
Gatas gatunas, kengas no cio
Esposas drogadas, tadinhas, mal pagas

Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz

Garotas de Ipanema, minas de Minas
Loiras, morenas, messalinas
Santas sinistras, ministras malvadas
Imeldas, Evitas, Beneditas estupradas

Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz

Paquitas de paquete, Xuxas em crise
Macacas de auditório,velhas atrizes
Patroas babacas, empregadas mandonas
Madonnas na cama, Dianas corneadas

Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz

Socialites plebéias, rainhas decadentes
Manecas alcéias, enfermeiras doentes
Madrastas malditas, superhomem sapatas
Irmãs La Dulce beaidetificadas

Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Di
niz

Iyá-Mi Osorongá



As Senhoras do Pássaros da Noite – Quando se pronuncia o nome de Iyá-Mi Osorongá, quem estiver sentado deve-se levantar, quem estiver de pé fará uma reverência, pois se trata de temível Orixá, a quem se deve apreço e acatamento.
- Jorge Amado -
Iyá-Mi Osorongá é a síntese do poder feminino, claramente manifestado na possibilidade de gerar filhos e, numa noção mais ampla, de povoar o mundo. Quando os Iorubas dizem “nossas mães queridas” para se referirem às Iyá Mi, tentam, na verdade, apaziguar os poderes terríveis dessa entidade.
Donas de um axé tão poderoso como o de qualquer Orixá, as Iyá-Mi tiveram o seu culto difundido por sociedades secretas de mulheres e são as grandes homenageadas do famoso festival Gèlèdè, na Nigéria, realizado entre os meses de Março e Maio, que antecedem o início das chuvas do país, remetendo imediatamente para um culto relacionado à fertilidade.
As iyá-Mi tornaram-se conhecidas como as senhoras dos pássaros e a sua fama de grandes feiticeiras associou-as à escuridão da noite; por isso também são chamadas Eleyé, e as corujas são os seus principais símbolos.
A sua relação mais evidente é com o poder genital feminino, que é o aspecto que mais aproxima a mulher da natureza, ou seja, dos acontecimentos que fogem à explicação e ao controle humano. Toda a mulher é poderosa porque guarda um pouco da essência das Iyá-Mi; a capacidade de gerar filhos, expressa nos órgãos genitais femininos, assustou sempre os homens.
As mães são compreendidas como a origem da humanidade e o seu grande poder reside na decisão que tomar sobre a vida de seus filhos. É a mãe que decide se o filho deve ou não nascer e, quando ele nascer, ainda decide se ele deve viver.
Iyá-Mi é a sacralização da figura materna, por isso o seu culto é envolvido por tantos tabus. O seu grande poder deve-se ao fato de guardar o segredo da criação. Tudo o que é redondo remete ao ventre e, por consequência, às Iyá-Mi. O poder das grandes mães é expresso entre os orixás por Oxum, Iemanjá e Nanã Buruku, mas o poder de Iyá-Mi é manifesto em toda a mulher, que, não por acaso, em quase todas as culturas, é considerada tabu.
As denominações de Iyá-Mi expressam as suas características terríveis e mais perigosas e por essa razão os seus nomes nunca devem ser pronunciados; mas quando se disser um dos seus nomes, todos devem fazer reverencias especiais para aplacar a ira das Grandes Mães e, principalmente, para afugentar a morte.
As feiticeiras mais temidas entre os Iorubas e no Candomblé são as Àjé e, para se referir a elas sem correr nenhum risco, diga apenas Eleyé, Dona do Pássaro.
O aspecto mais aterrador das Iyá-Mi e o seu principal nome, com o qual se tornou conhecida nos terreiros, é Osorongá, uma bruxa terrível que se transforma no pássaro do mesmo nome e rompe a escuridão da noite com o seu grito assustador.
As Iyá-Mi são as senhoras da vida, mas o corolário fundamental da vida é a morte. Quando devidamente cultuadas, manifestam-se apenas no seu aspecto benfazejo, são o grande ventre que povoa o mundo. Não podem, porém, ser esquecidas; nesse caso lançam todo o tipo de maldição e tornam-se senhoras da morte.
O lado bom de Iyá-Mi é expresso em divindades de grande fundamento, como Apaoká, a dona da jaqueira, a verdadeira mãe de Oxóssi. As Iyá-Mi, juntamente com Exú e os ancestrais, são evocadas nos ritos de Ipadé, um complexo ritual que, entre outras coisas, ratifica a grande realidade do poder feminino na hierarquia do Candomblé, denotando que as grandes mães é que detém os segredos do culto, pois um dia, quando deixarem a vida, integrarão o corpo das Iyá-Mi, que são, na verdade, as mulheres ancestrais.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Fé e Força...



Vai que dá!

Desnuda...

SENNA


Meus olhos são mais que castanhos,
São multicores.
Minha boca é mais que bonita,
É meu cartaz aberto ao público.
Minha pele não é só alva,
Tem marcas negras como tatuagem, eternas...
Meu corpo é mais que aparência
É meu instrumento sagrado, bendito, colocado em holocausto se for preciso.
Minhas mãos são mais que delicadas,
São fortes, capazes...
Elas escrevem o grito da minha alma.



((( Camila Senna )))

quarta-feira, 6 de março de 2013

CICATRIZES


Amo o risco da cicatriz
singela na pálpebra
do olho que me fez nua

as cicatrizes já fazem parte
da minha carne,
interna e externa

as internas me fizeram
as externas revelaram
que não possuo vaidade

digo vaidade de alma, aquela,
que tira o brilho do olhar
apagando de vez a luz da vela

no meu mar marrom navego só,
domando respingos de todos os desafetos
que insistem em afetar meu caminho do meio.


o trecho mais bonito do meu corpo soldado, é minh'alma.



Camila Senna

Resposta!




A lascividade é tua
escorre do teu olho
e pula querendo formatar
o corpo interno e externo do outro.

O rasgo da minha boca é tinto
até mais contido que meu vestido.
Assumidamente louca varrida
mas com o registro carimbado
do comando da sanidade.

Insegura é tua mão
que não pegou com força
se assegurando nas minhas ancas.

 
O cheiro do atrevimento o vento leva
mas trás de volta batendo na minha porta.
Por caridade perfumou seu nariz...
quimera bondade.

O roxo sobre minha pele de neve
tem mais histórias que qualquer uma...
Todos já se foram contigo
deixando comigo,


(a marca de nunca mais ser a mesma).



 
Camila Senna

...

  
O sorriso é vazio além dos dentes. 


((( Camila Senna )))

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Pó de Poesia 2013 - Multicores -




Só gente fina, só gente do bem. Uns com rima outros sem. Pois o que vale mesmo é a amizade que emana do olhar de cada um. O bom mesmo é gostar de estar de verdade na casa Donana pela qual somos recebidos com sorrisos coloridos, sem trama, sem teoria, sem maldade, sem nariz em pé. Nessa Casa da Dona Ana jorra feito água de cachoeira no cio pluralidade, respeito e inclusão - novos, antigos e desconhecidos olhares são sempre bem-vindos - Eu moro quase num "apartamento" não tem quintal. O quintal da minha casa hoje eu posso falar e afirmar que é o Donana. (rs) Fui criada na rua ao lado e quando tinha uns oito anos mais ou menos, lembro-me perfeitamente de toda a movimentação cultural arraigada que fervia naquele lugar, que ao passar eu vibrava. Está cravado na casa da minha memória a imagem do Dida Nascimento com os cabelonssss dele passando de bicicleta. Hoje a mesma vivacidade de outrora. Márcio Rufino, cheio de mar cheio de cio, me viu na barriga da minha mamãe. A poesia de verdade foi-me apresentada através do livro do Márcio que o mesmo deu para meu pai, e quem leu a vera foi eu.  Ivone Landim, mulher que hoje é feito poesia, não vivo sem. Ela transborda palavras, inspirações, criatividade, tudo com muita dignidade. Sua inquietação de arte é lúcida, poucos captam, só os loucos no sentido lindo da palavra se deixam possuir pela cores do seu olhar.  A mesma sem muito aparecer, sem muito alvoroço espalha e espalhará muito mais o Pó de Poesia. Ela desata nós, ela agoniza a regra, ela une todas as cores, transforma crítica em lírios. O primeiro Sarau Donana de 2013 com direito a bolo e tudo por mais um ano de vida e de muitos que virão, foi versátil. Desde o adereço da flor da mulher cigana ao Pó de Poesia. Sem “demagô” que risco aqui algumas palavras, não sou muito de lançar depoimentos, comunico-me muito com minha poesia, que uns encontram, outros não. Esse é o barato.
Admiração de verdade é o que eu sinto de fazer parte desse elo irreversível. Depois de toda essa coisa boa passar por mim há anos e dar bom dia, hoje faço parte. Um Salvee!!!


Camila Senna

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A outra...



Enquanto a outra ria
A outra ia...

E a que ria, rodopiava,
cantava e inventava palavras.

A que ia,
sorria falso, chorava seco...
Dizia sim por dentro não!


((( Camila Senna )))

Ainda sinto...








Adormeceu
entre eu e você,
a pureza.
Velei o vazio
senti calafrio
mas graças a Jah, ainda sinto cheiro de alecrim.



((( Camila Senna )))